Você já ouviu falar de Brain Rot (Podridão do Cérebro)? Foi o termo do Ano em 2024, eleito pelo Dicionário Oxford.
Significa “a deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, devido ao consumo excessivo de conteúdo online considerado trivial ou pouco desafiador.”
O neurocientista Earl Miller do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA, que é um especialista mundial em atenção, alertou em 2022 que agora estamos vivendo em “uma tempestade perfeita de degradação cognitiva”.
Especialmente a degradação drástica da nossa capacidade de foco. A equipe da professora Gloria Mark da Universidade da Califórnia descobriu em 2004 que o tempo médio de atenção era de dois minutos e meio – 150 segundos.
Em 2012 era de 75 segundos.
Em 2018, caiu para 47 segundos. Ela alertou: “isso é algo com que acho que deveríamos nos preocupar muito como sociedade”.
PERGUNTE A SI MESMO SE VOCÊ TEM ALGUM DESTES SINTOMAS DE BRAIN ROT:
- Aumento da ansiedade ou tristeza após usar as redes sociais
- Dificuldade para adormecer ou permanecer dormindo por ficar com os olhos grudados no celular até altas horas de noite
- Passar menos tempo em atividades físicas porque está nas redes sociais, causando letargia e mau humor
- Frequentemente se comparar aos perfis idealizados de outras pessoas nas redes sociais, causando inveja ou insatisfação com sua própria vida
- Evitar ocasiões sociais em favor de estar online, tendo assim menos relacionamentos na vida real
- Verificação compulsiva de seus feeds de redes sociais, que interfere em sua produtividade e concentração
- Sentir-se pior consigo mesmo, talvez devido a comentários negativos online ou cyberbullying
- Aumento do estresse por se envolver em (ou testemunhar) discussões online
- Fadiga mental e eficiência reduzida por se sentir sobrecarregado por informações online
- Negligenciar responsabilidades pessoais ou profissionais devido ao tempo gasto nas redes sociais.
Qual a sua nota final?
DECLÍNIO DE ATENÇÃO
Você já se perguntou: Por que sentimos tanta fadiga mental hoje em dia?
Imagine que você está escrevendo um relatório importante e, de repente, para o que está fazendo e passa a fazer outra coisa. Então, quando você volta ao relatório, leva algum tempo para reorganizar seus pensamentos: “No que eu estava pensando? Quais eram as palavras que eu estava planejando usar? Onde eu estava na minha linha de pensamentos?”
Sempre que mudamos nossa atenção de uma tarefa diária para checar no celular (se recebemos notícias ou informações nas mídias sociais), e então voltamos para a tarefa, isso usa recursos mentais preciosos, enfraquece nossa concentração e drena nossa energia psíquica.
Além disso, um estudo publicado no periódico científico World Psychiatry em 2019 mostrou que essas trocas ocorrem com a frequência de 19 segundos!
O QUE ESTÁ ACONTECENDO EM NOSSOS CÉREBROS COM TUDO ISSO?
Nossos cérebros podem não estar “apodrecendo”, mas estão mudando radicalmente e estruturalmente, de acordo com pesquisas científicas cada vez mais frequentes.
Altos níveis de uso da internet estão associados à diminuição da massa cinzenta nas regiões pré-frontais do cérebro, o “centro de comando” do cérebro, responsável pelas funções executivas de planejamento, atenção, tomada de decisão, memória, controle cognitivo e regulação emocional. (Firth, J. The “online brain”: how the Internet may be changing our cognition. World Psychiatry, 2019.)
Exatamente aquela parte do cérebro que não queremos “apodrecer”.
Solly, J. 2022
“Vício em internet” foi investigado usando várias técnicas de neuroimagem, incluindo ressonância magnética, tomografia computadorizada por emissão de pósitrons e fóton único, que revelaram uma série de mudanças estruturais cerebrais significativas na região pré-frontal e em outras áreas cerebrais importantes.
Não apenas foi encontrada uma diminuição da densidade da substância cinzenta nas camadas corticais pré-frontal e orbito-frontal, mas também:
- Atividade funcional anormal de regiões cerebrais associadas à dependência de recompensa;
- Ativação de regiões cerebrais associadas ao desejo compulsivo e impulsividade;
- Aumento do metabolismo da glicose em regiões cerebrais associadas à dependência de recompensa e desejo de repetir sensações;
- Aumento da secreção de dopamina com uma diminuição concomitante na disponibilidade do receptor de dopamina (o que significa mais desejo e menos satisfação).
(Tereshchenko, SY. Neurobiological risk factors for problematic social media use as a specific form of Internet addiction: A narrative review. World Journal of Psychiatry, 2023.)
Como resultado, o “UPI” – “Uso Problemático da Internet” é caracterizado por uma perda significativa do controle inibitório, da capacidade de tomada de decisão e da memória, além de aumento da impulsividade, do comportamento repetitivo, do desejo e da insatisfação.
(Solly, J. Structural gray matter differences in Problematic Usage of the Internet: a systematic review and meta-analysis. Molecular Psychiatry vol. 27, 2022.)
SOFRIMENTO EMOCIONAL
E os correlatos fisiológicos da “podridão cerebral” resultam não apenas em disfunção cognitiva, mas também em desequilíbrio emocional.
Um estudo com 400 jovens paquistaneses concluiu que o uso excessivo de celulares estava associado a:
- Ansiedade e estresse
- Desregulação emocional
- Depressão
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
- TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade)
- Distúrbios do sono
- Baixa autoestima
- Solidão
(Daniyal, M. et al. The Relationship between Cellphone Usage on the Physical and Mental Wellbeing of University Students: A Cross-Sectional Study. Int J Environ Res Public Health, 2022.)
E esses desequilíbrios emocionais se traduzem em queixas físicas: dor de cabeça tensional ou enxaqueca, dores nas costas, excesso de peso e dores musculoesqueléticas. (Tereshchenko, 2023)
Uma situação bastante sombria, certo?
Então, o que podemos fazer a respeito, especialmente quando o Brasil lidera o pódio dos países com pessoas que mais passam tempo conectadas?
O brasileiro passa, em média, quase 5 ½ horas por dia diante de seus aparelhos!
E pior ainda: 56% dos brasileiros não ficam longe do smartphone por mais de 1 hora.
(Empresa de análise de mercado digital App Annie)
CONTROLE DO VÍCIO CELULAR
Aqui estão algumas sugestões de como modificar seu uso de mídia social e melhorar sua saúde plena. Mas lembre-se, não há poção mágica, nem “bala de prata”!
- Seja seletivo sobre seus feeds; escolha contas que o inspirem, eduquem e elevem, e pare de seguir contas que desencadeiem emoções negativas ou estresse.
- Desligue notificações não essenciais para reduzir sua vontade de verificar seu telefone constantemente.
- Na próxima vez que você pegar seu telefone, faça a si mesmo três perguntas:
• Para quê?
• Por que agora?
• O que mais?
“Por que estou pegando este telefone?… Por que estou fazendo isso agora?… E o que mais eu poderia estar fazendo agora?”
Mas esses métodos, e a maioria das técnicas que são oferecidas para curar os viciados em celulares, exigem FORÇA DE VONTADE. O que é severamente ausente em sofredores de Brain Rot.
Logo, precisamos de alguma FORÇA EXTERNA para nos ajudar a levantar nossas cabeças para longe de nossas telas.
FORÇA DE AJUDA Duas forças muito acessíveis e eficientes são (1) NATUREZA e (2) MÚSICA.
(1) O PODER DA NATUREZA e a TERAPIA DE RESTAURAÇÃO DA ATENÇÃO
Até mesmo os memes da internet defendem “Toque na grama” para fugir da força dopaminérgica atrativa dos celulares, e de fato a Mãe Natureza é uma força mais poderosa do que qualquer tecnologia.
Passar um tempo na natureza, assistindo ao pôr do sol, olhando para o oceano ou montanhas, sentado em um parque, ou mesmo apenas passando alguns minutos olhando pela janela para uma cena natural, comprovadamente nos ajuda a superar a fadiga mental e melhorar nossa capacidade de focar e direcionar nossa atenção de forma eficaz. [Fique atento para um futuro blog sobre este fascinante tópico da A.R.T., Attention Restoration Therapy, Terapia de Restauração da Atenção]
Mas TOCAR NA GRAMA ou ANDAR DESCALÇO (veja meu reels no Instagram, neste link) faz ainda mais: ativa a poderosa sensação do TOQUE para superar seu vício visual.
Saia na natureza e experimente!
2) O PODER DO SOM
Se você está atolado num lamaçal de ansiedade e não consegue tirar sua mente da estimulação constante do seu celular, pode ser hora de diminuir o volume da sua cabeça e aumentar o volume de sons que podem acalmar sua mente e relaxar seu corpo.
Pesquisas mostraram que música relaxante e sons calmantes, e especialmente os sons espirituais de mantras, podem liberar o hormônio ocitocina que melhora nosso humor e diminui a ansiedade; reduzir o hormônio do estresse cortisol; diminuir nossa frequência cardíaca; e transformar o estresse em energia positiva.
Mas, acima de tudo, sons curativos podem nos dar o equilíbrio interno e a motivação necessária para utilizar a tecnologia em nosso benefício, não em nosso detrimento. [Mais sobre o poder do som e as novas e antigas tecnologias sonoras em um blog futuro!]
Renova seu cérebro e eleve seu espírito com som – especialmente o Som Sagrado. Como disse o autor Hans Christian Andersen, “Quando as palavras falham, a música fala”.
Susan Andrews