A organização Mundial de Saúde chamou o estresse a “epidemia do século.” Existem múltiplas causas – o estresse cibernético, síndrome de fadiga da informação, mudanças aceleradas, crises políticas, económicas, psicológicas e o assim chamado “tecnostress”. O psicólogo Larry Rosen alertou, “Fazemos cada vez mais coisas, estamos mais irritados do que nunca e nosso tempo é cada vez mais escasso. Todas essas reações à tecnologia nos estressam, gerando nervosismo e ansiedade. Chamamos essa tensão de tecnostress.”
A nossa situação é como disse a Rainha de Copas do conto Alice no País das Maravilhas, “Agora você precisa correr o mais que puder para ficar no mesmo lugar. Se você quiser chegar a algum outro lugar, precisa correr pelo menos duas vezes mais rápido.” É o mal da pós-modernidade. Todas as pessoas do mundo – da criança ao idoso, do executivo ao empregado – sofrem com isso. Inclusive os médicos. Uma pesquisa publicada no JAMA (Jornal of the American Medical Association) mostrou que de 1 em 3 médicos estão sofrendo de burnout (exaustão) em qualquer dia de trabalho, no mundo todo, independentemente da especialidade.
Resposta biológica
O estresse é uma resposta biológica em todos os animais, desenvolvida ao longo de milhões de anos de evolução, para salvar a vida numa emergência. Quando enfrentamos um estressor, entre 2 a 5 segundos, milhares de reações físico-químicas acontecem no nosso corpo: o coração bate mais rápido, o fígado transforma glicogênio em glicose para dar energia instantânea, os músculos contraem-se, o sistema imunológico é colocado em alerta.
Agora imagine essa reação fisiológica maciça, mobilizada pelo sistema nervoso simpático, acontecendo no seu corpo todos os dias, muitas vezes ao dia. Isso acaba provocando palpitações e doenças do coração, arteriosclerose, hipertensão e enfarte, problemas respiratórios, digestivos e sexuais, dores musculares e cefaleia. O sistema imunológico enfraquecido nos torna vulneráveis a resfriados, infecções como herpes, úlcera e até mesmo câncer.
O estresse bom e ruim
Na realidade, o estresse bom é essencial para o nosso desenvolvimento. Ele nos mobiliza, nos energiza, nos ajuda a concentrar todas as nossas forças para melhorar o nosso desempenho. Pesquisou-se que estudantes que secretaram mais adrenalina – um dos hormônios do estresse – na hora do exame obtiveram as melhores notas. Esse estresse positivo se chama “eustresse”.
Mas o estresse se torna prejudicial quando a secreção de adrenalina não é suficiente para enfrentar o estressor, e as glândulas suprarrenais começam então a secretar o hormônio cortisol em excesso. O excesso de cortisol se torna tóxico para nossas mentes e corpos, e tem sido ligado a muitas enfermidades físicas e mentais, incluindo a depressão e o câncer.
O tipo de pessoa que os cardiologistas chamam de “Personalidade Tipo A” – pessoas irritadas, hostis, agressivas – secretam até 40 vezes mais cortisol, e têm uma probabilidade 5 vezes maior de morrer antes dos 50 anos. O problema não é o estressor – colegas de trabalho antipáticos, problemas em casa, falta de dinheiro, trânsito, etc. – mas a nossa REAÇÃO a esse estressor. Quando reagimos a um problema dizendo, ou mesmo pensando – “Ai, que droga! Não aguento mais isso”! – estamos aumentando os níveis de cortisol no corpo, que, quando em excesso, prejudica nossa saúde por horas depois. Como diz o cardiologista Dr. Redford Williams, “A raiva mata”.
E o estresse da forma negativa também predomina no tipo de pessoa que sofre de estresse de longo prazo, sem recuperação. Quando ratos são colocados numa jaula eletrificada e choques moderados são dados em intervalos aleatórios, não há necessidade de elevar os choques a um nível letal para matar os ratos. Depois de alguns dias desse estresse, os ratos perecem – morrem de estresse.
Ilhas de Pausa
Se queremos transformar o “estresse ruim” em “estresse bom”, precisamos criar “ilhas de pausa”, de tranquilidade e positividade, no meio do mar turbulento e estressante da vida moderna. Naquele experimento com os ratos, quando foi dado certo tempo para que eles se recuperassem entre os choques, todos sobreviveram. E não apenas sobreviveram: seus pelos se tornaram mais vistosos e sua destreza nos labirintos aumentou consideravelmente!
Precisamos aprender a responder aos desafios rápida e eficazmente, mas em seguida relaxar. O truque é contrabalançar a ativação com o relaxamento – é saber “esfriar a cabeça” e “dar um tempo” rapidamente, até mesmo em meio a situações extremamente estressantes. Necessitamos de um tempo para nos restaurar entre os fatos estressantes, para permitir ao sistema nervoso parassimpático reparar o corpo e a acalmar mente após cada esforço. Na Escola de Medicina na Universidade de Harvard, isso é chamado de “resposta de relaxamento”.
Ferramentas de Respiração e Meditação
Podemos acalmar o sistema nervoso simpático e ativar o parassimpático de várias maneiras. Uma das mais eficazes é a respiração diafragmática, usando o grande músculo abaixo dos pulmões. A respiração diafragmática lenta e profunda automaticamente estimula o sistema nervoso parassimpático, de modo que é impossível sentir-se tenso ou ansioso. A respiração correta pode eliminar vários distúrbios relacionados ao estresse, tais como hipertensão, depressão, ansiedade, pânico, dores, etc.
Meditação proporciona um amplo espectro de benefícios físicos e mentais, não somente de gerenciar o estresse e desenvolver o equilíbrio emocional, mas também de aliviar a ansiedade, insônia e depressão, normalizar a pressão arterial e aumentar a eficiência cardiovascular.
E a meditação melhora o nosso desempenho em todos os aspectos da vida. O ato de focar a mente durante a meditação age como um treinamento em concentração dentro da academia da mente. A mente focada como um raio laser durante a meditação pode então voltar seu foco para o mundo externo, e executar até mesmo as tarefas mais difíceis com facilidade, eficácia e criatividade.
Qualquer um pode se disciplinar na prática da meditação, se realmente quiser. As pessoas com mentes mais agitadas deveriam fazer algumas simples posturas de yoga, automassagem, e relaxamento profundo antes da meditação, para trazer suas agitadas mentes sob seu controle.
O Estresse a Nosso Favor
Estresse é uma energia que nos “carrega” negativa ou positivamente, baseando-se nas nossas reações diante da vida. Pode nos enfraquecer e adoecer, ou nos fortalecer e nos motivar para atingir nossos ideais mais elevados. Podemos tornar o estresse a nosso favor, intercalando os períodos de estresse, que são essenciais para nosso crescimento, com períodos de relaxamento completo, para nos recuperarmos. Precisamos aprender a harmonizar pressão e pausa, atividade e relaxamento – e desfrutar de uma vida plena, saudável e feliz.
Quinze minutos por dia dessas simples práticas de autorregulação neurológica e hormonal não somente nos ajudam a gerenciar nosso estresse, mas a torná-lo – como no caso dos ratos – ao nosso favor!
(Texto da Dra. Susan Andrews)