Raiva no trânsito. Impaciência com os filhos e os colegas de trabalho. Irritabilidade e ansiedade, queimação no estômago e dores de cabeça. Cansaço e o sentimento que a vida está passando muito rápido, ou que está estagnada, associado a uma incômoda sensação de vazio.
O estresse psicológico é a doença do nosso século. E também a doença das mil faces: seus sintomas e efeitos aparecem das mais diversas formas, criando dores, emoções e pensamentos negativos, e até prejudicando o sistema imunológico. Inclusive, um dos maiores saltos de conhecimento da ciência foi a descoberta que o estresse psicológico gera inflamação crônica. Diferente da inflamação aguda, necessária e bem-vinda para cicatrização e defesa contra vírus e bactérias, a inflamação crônica é muito nefasta para nosso corpo e mente. Ela está associada ao aparecimento de todas doenças metabólicas (como diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade), às doenças cardiovasculares (como acidente vascular cerebral e infarto do coração), às doenças neurodegenerativas (como doença de Alzheimer e Parkinson), ao câncer e doenças autoimunes, e até de transtornos de humor (como transtorno depressivo e de ansiedade).1
Tamanha é a influência do estresse em nossa saúde e bem estar que profissionais de saúde e cientistas consideram essencial o gerenciamento de estresse para manter saúde física e mental e, inclusive, tratar doenças.2 Através de técnicas de gerenciamento do estresse, não só sintomas, mas as repercussões fisiológicas como a inflamação crônica são tratadas. O campo que estuda e aplica essas técnicas foi intitulado de Medicina Mente-Corpo.3
Este campo da Medicina Mente-Corpo está em rápida expansão e demonstrou ser admiravelmente eficiente em controlar o estresse. Através de técnicas simples de autorregulação do sistema nervoso, técnicas de respiração, relaxamento, concentração e meditação, uso do som para estabelecimento de estados contemplativos e relaxados, entre muitas outras – técnicas que praticamente qualquer pessoa pode aprender – é possível tratar os efeitos do estresse.
Pesquisas da metodologia Saúde Integral Mente-Corpo® (SIM®)
O Instituto Visão Futuro criou uma metodologia chamada Saúde Integral Mente-Corpo® (SIM®) que, através de abordagem psicológica e prática, consegue instituir os efeitos demonstrados pelo campo da Medicina Mente-Corpo em pessoas no cenário real da vida do dia-a-dia. Pesquisas entre Instituto Visão Futuro e Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostraram os vários efeitos de programas baseados nessa metodologia.
Em especial, duas delas foram realizadas com esta abordagem em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e com o Hospital Universitário da USP. A primeira pesquisa mostrou os efeitos de SIM® na redução do estresse e correlaciono-o com os níveis de citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias, as moléculas mensageiras que regulam o sistema imunológico. Os participantes da pesquisa foram estudantes de medicina submetidos a um período de estresse devido ao seu intenso e demandante curso de graduação. Foi demonstrado que citocinas inflamatórias não tiveram diferença significativa, mas o nível das citocinas anti-inflamatórias (ou regulatórias) aumentaram significativamente com as práticas de SIM® ensinadas através de um programa de 8 semanas (1 aula por semana de 2 horas).
Concluiu-se que a metodologia SIM® conseguiu melhorar a resposta das citocinas anti-inflamatórias, diminuindo os efeitos do estresse dos alunos, podendo atuar na prevenção de inúmeras doenças crônicas. O potencial desta abordagem é promissor e vital para a sociedade: com práticas que tornam o indivíduo não só mais resistente a inflamação sistêmica e surgimento das doenças em múltiplos órgãos, mas também às doenças mentais, é possível impactar enormemente o sistema de saúde.
Aumento na Qualidade de Vida no HU
Uma outra pesquisa com a metodologia do Instituto Visão Futuro avaliou os efeitos das práticas SIM® sobre estresse, humor e qualidade de vida em profissionais da área da saúde que trabalham no Hospital Universitário da USP. Após apenas 6 semanas (1 aula de 2 horas por semana), o estresse percebido diminuiu significantemente em 20% em média. A qualidade de vida dos participantes aumentou em todos domínios: psicológico, social, físico, ambiental e qualidade de vida global. Mas o que mais destacou foram os resultados que afetam humor. Os participantes do curso tiveram intensa melhora de seu humor (avaliados pela Escala Visual Analógica de Humor – VAMS – e apresentados através de tamanho de efeito – d de Cohen), demonstrando um efeito grande de mudança! As pessoas se demonstraram mais: tranquilas, animadas, fortes, esclarecidas, energizadas, contentes, descontraídas, atenciosas, proficientes (capazes), felizes, amigáveis e agregadoras.
Considerando que afetar positivamente muitos tipos de humor é raro e difícil para a psicologia e medicina atual, este programa teve um efeito fora do comum.
Não há, até o momento, uma abordagem prática que o próprio paciente possa realizar que seja largamente utilizada pela medicina ou psicologia especificamente voltado para diminuir estresse psicológico e inflamação e evitar o surgimento destas doenças crônicas. Desta forma, a abordagem mente-corpo oferece uma forma mensurável e promissora de modificar a enorme epidemia de estresse e doenças crônicas acometendo a sociedade atual, particularmente os transtornos mentais. Em especial, suas vantagens são o baixo custo e a facilidade de ser praticada por todos.
Congresso Internacional de Medicina Estilo de Vida nos EUA
A pesquisa foi aceita para apresentação na Conferência Internacional de Medicina de Estilo de Vida na Flórida – Estados Unidos. Foi apresentada pela Dra. Susan Andrews e pelo Dr. Ernesto Sasaki Imakuma do Instituto Visão Futuro, representando toda equipe de pesquisa.
Referências
1 Liu, Yun-Zi, Yun-Xia Wang, and Chun-Lei Jiang. “Inflammation: the common pathway of stress-related diseases.” Frontiers in human neuroscience 11 (2017): 273283.
2 Varvogli, Liza, and Christina Darviri. “Stress management techniques: Evidence-based procedures that reduce stress and promote health.” Health science journal 5.2 (2011): 74.
3 Dossett, Michelle L., Gregory L. Fricchione, and Herbert Benson. “A new era for mind–body medicine.” The New England journal of medicine 382.15 (2020): 1390.
(Texto do Dr. Ernesta Imakuma)