A consciência individual existe dentro de um oceano infinito de Consciência assim como um pote cheio de água submerso num lago. A água dentro do pote parece estar separada da água do lago somente por que entre ambas está o limite do pote — a mente individual, o limitado ego. Mas, quando o pote é removido, as águas se fundem: quando o ego é transcendido, e não existe mais qualquer separação entre interior e exterior, a consciência
individual se dissolve na infinita Consciência num fluxo extasiado.
Essa sutil camada da mente, chamada em sânscrito Hiranyamaya kos’a (“nível da mente dourado”), é o último fino véu que reveste a Infinita Unidade. Quando o radiante brilho dourado dessa camada da mente é experienciado, o meditador se sente muito próximo do seu Ser interior, e o desejo pela união se torna intenso.
Como o santo indiano Ramakrishna descreveu tal ardente atração: “Você não pode imaginar minha agonia em separação do Supremo. Suponha que haja uma bolsa cheia de moedas de ouro num quarto e um ladrão no quarto ao lado, apenas com uma fina divisória entre ambos. Será que ele conseguirá dormir tranquilamente? Ele não iria correr de um lado a outro até romper a divisória para se apossar do ouro?”96
Aquelas pessoas que na sua meditação alcançam esse sublime nível do Hiranyamaya kos’a são preenchidas não apenas com uma iluminação bem-aventurada, mas também com uma intensa aspiração
para atingir aquele supremo estado de Unidade, e querem rasgar o último véu de separação e se fundir com a Consciência Infinita.
O poeta místico Sufi, Hafiz, escreveu:
Sou um falcão atado com grandes asas e afiadas garras em prontidão,
cada tendão tenso, como um Arco Sagrado,
estremecendo no limite do meu Ser
da Eterna Liberdade,
Embora ainda mantido atado
por uma Miraculosa e Divina Corda Dourada.
Estou esperando que Tu me libertes
para dentro de Tua Mente
e Teu Infinito Ser.
Estou implorando-Te em absoluto desabrigo
Para ouvir, finalmente, Tuas Palavras de Graça:
‘Voe! Voe para dentro de Mim!’
Hafiz, quem pode entender
sua sublime Proximidade e Separação?”
SAMÁDHI: EXPANSÃO, NÃO CONTRAÇÃO
Quando a mente da pessoa que medita se torna tão agudamente focada no Infinito, a ponto de que todos seus pensamentos investidos com a sensação do ‘eu’” se dissolvem na intensa atração pela Meta Suprema, então ela entra no estado de samádhi (literalmente “um com a meta” em sânscrito*), no mais interno Ser. Essa sublime realização está além da razão, além do pensamento, além da mente em si – como pode então ser descrita? Como é
dito na Índia, nesse estado, “o guru é mudo, e o discípulo surdo”.
Algumas pessoas, como o psicólogo Abraham Maslow assinalou, temem essa “morte do ego” como algum tipo de aniquilação – uma hesitação interna que ele chama de uma distorcida expressão do nosso medo da mortalidade. Mas o que elas não se dão conta é de que algo em nós precisa “morrer” para que um novo Ser, mais transcendente, possa nascer. A prática espiritual tem como sua meta não a aniquilação da mente, mas sua expansão – a autotranscendência.
A ciência pode apenas sondar às cegas o cérebro e tentar deduzir seu funcionamento em relação ao pensamento, sem nenhuma pista sobre o que a consciência realmente é. Como o escritor inglês Aldous Huxley admitiu, “O que a consciência é, nós não sabemos…” Se quisermos entender intimamente os mais sutis campos do nosso mais profundo Ser, precisamos nos voltar para aquelas tradições que, por milhares de anos, têm explorado e mapeado esses domínios, e praticar suas sistemáticas técnicas para nos lembrar de quem realmente somos.
(Da Dra. Susan Andrews, do livro Meditação: o que Dizem os Cientistas e Sábios)